Monday, May 03, 2010

razão alheia (fundamentos) – pigmaliel [manifesto]


quando se olha uma coisa, um som, um corpo

se põe um coração neles.

o sangue que irrompe das ranhuras, não

é vermelho apenas, é também uma dis-

tância incorporada entre o órgão

incorrupto e a visão que macula

as fraternidades da teoria.


uma poesia que reflete rimas e

tenta escapar convenções não entende

que refutar, escapar e todas as coisas

que imprime na ausência

a chancela de novo, tem na sua

fúria um frágil ministério.


catre que aprisiona esses dias

em que se espreita, alheio, a sombra movediça

de milênios cheios de modernidade

calar as cores do verso puro imenso,

gritando luzes onde a escuridão palpita...

os olhos do espírito colide com

a cidade na função da ausência.


o som do corpo é a presença.

a peça de madeira é frágil –

três vezes humana. os olhos,

as mãos – são joão baptista –

as águas correm sobre o christo

desumanizado. os olhos

lamuriantes do perpétuo socorro.

por uma clarividência invertida,

vê-se o movimento das cores

sem duração. a angústia de contorcer a poesia

é o de conter o movimento

qualquer coisa que explique

a razão ferida.


pintar o quadro

sob a luz de mercúrio

e albedo – o vermelho e o branco.

rosácea noite sanguínea

duplica a nova aliança

de um sacre coeur inteligível,

e anárquico de sabedoria.

Pigmaliel, ai ai meu deus..

o tudo é o nada

o ser é o nada que vê

a razão difusa na

paisagem.

Razão alheia


imaginação dai-me luz
dai-me o espaço não visto
o sol concentra na ponta dos cantos
os sons desavessos.
- essas cores de todas as horas.
o que a sombra segreda as areias
cantai ao granito da memória
horas alheias de terras e esquinas

não cala o que a boca espreita
a luz do pensamento.
a coisa imaginada,
se nela o sol incide
produz no chão uma razão de sombra.
mas este escuro breve,
essa sombra, não existe
já que não foi imaginada.
é um impossível que espalha na areia
uma percepção causal.
essa coisa, essa sombra do objeto imaginado
habita outra razão, estranha,
alheia aos mistérios, aos juízos,
alheia à razão.
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