Tuesday, July 17, 2007

Hespéra



Pobres as goiabas silenciosas de céu, menos pela obesidade ou pelo amarelo, mas pobres por saberem-se fartas. Nem se quer abriu os olhos para a queda... Quem sabe esse cair não lhe seria o mistério maior de sua curta e previsível existência... talvez até fosse jovem...; mas a fartura à qual se aninhava, mais por cansaço do que por milagre, lhe ofuscava o céu. Mas um vento trouxe a vida em forma de terra e calor. Córregos vermelhos lhe atravessaram a carne fria sob o sol incandescente de julho. A essência enfim desperta. Ao invés de um extinguir-se em definhamento cor de breu junto à majestade inofensiva e circunspecta do caule, explodir em vibrantes comoções, possuir a terra, render ao chão sua intimidade impoluta, oferecer-se aos passarinhos, aos passantes, aos poetas. Enxergar altivez nas minhocas. E, num “grito epifânico” de entrega, arremessar-se faminta às sortes de areia, deixar-se ir com o vento, espalhando primavera e colhendo amores.

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