Sunday, May 27, 2007

recuerdos [1]



..foi quando te encontrei por acaso entre os livros, e vivíamos aquela intensidade furando o espaço, e o tempo circulando nossos olhos. Nada via, somente corria na lembrança dentro da lembrança, depois de novamente ter te visto sorrindo na vitrine, Fairy (Clara). Percorrendo as páginas do Herberto Sales, naqueles sons de gente entrando e saindo, “os pareceres do tempo”, naquele ritmo solitário da cidade de vidro. Tomara que o mundo fique imóvel, que todos virem estátuas de cera, e fiquemos donos do tempo, absolutamente incautos com os afagos; o que imaginava tomando tuas mãos naquela vez subindo os andares, ambos emudecidos, dizia à Fairy e respondia Clara com os mesmos embaraços da voz trôpega de imaginação. Fairy (Clara) me confundia no quadro formado com os livros em segundo plano. Aqueles tombos de Arte, por entre Rembrandt, Modigliani e Velásquez. Em primeiríssimo plano lhe enquadrava asas gigantes tomando o universo nas mãos, como se houvera voltado à casa agitada por cima das nuvens para avisar a Ícaro dos presentes esquecidos no chão. Ele não voltou porque os contos de fada são felizes para sempre. Ela o mirava do alto soletrando aquelas palavras mágicas: “todas-as-manhãs-do-mundo”. Seu grito ressonou nos ares como chuva melancólica de um domingo. Passei então atropelando as prateleiras, para abraçar Fairy (Clara) outra vez antes de sair, mas que não partia, eis que me ficava no léxico confuso daquela paisagem ao redor, no turbilhão de mim mesmo, nas escadas descendo ao submerso das lojas de vidro; asas derretendo-se até o asfalto; imagens de Clara no espelho do carro, via Fairy.. chovia, chovia.. acelerava sem querer mais ir, chovia..

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